LIVROS & LIVROS – ENSAIO POR JOÃO ROBERTO VASCO GONÇALVES (ROBERTO VASCO)

 Nos últimos seis anos, depois que passei a escrever e publicar, tenho pensado em escrever sobre os dois aspectos adversos dos livros e algumas particularidades.

Para facilitar o trabalho, montei um diagrama de blocos numa sequência que julguei suficiente, para cada um dos aspectos, lado a lado, identificando em cada bloco o título de cada etapa a ser analisada. Faço então os comentários e análises. VER ANEXO I.
SENTIDO - O mesmo livro, possui dois aspectos: Um acadêmico, voltado para a cultura e outro mercadológico, voltado para o mercado livreiro.
OBJETIVO – No sentido acadêmico, os objetivos são: Informar, Divertir, Educar ou mesmo um legado à posteridade. No entanto, no sentido mercadológico é simplesmente: ganhar dinheiro e remunerar os investidores do mercado livreiro.
VISÃO – No aspecto cultural ou acadêmico, o livro se define como: Veículo de comunicação; enquanto no aspecto mercadológico é simplesmente um produto, peça ou objeto de venda.
PÚBLICO ALVO
Os livros, acadêmicos ou culturais, de modo geral são impressos de duas formas. Ou pelas editoras das universidades, custeados pela entidade, conforme sua dotação orçamentária ou nas gráficas editoras comerciais, pagos com recursos de alguma lei de incentivo à cultura ou leis de projetos culturais, custeado pelo erário público conforme dotação orçamentária, ou bancados pelo próprio autor.
No aspecto acadêmico cultural: Estudantes, Professores, Literatas, Poetas, amantes da leitura, Pesquisadores, Historiadores etc.
No aspecto mercadológico, simplesmente Compradores: ricos, pobres, cultos, incultos, religiosos, ateus, depressivos, desportistas etc.
EDITORAS:
As editoras de universidade geralmente priorizam os melhores trabalhos dos internos.
Os livros, no aspecto mercadológico, são impressos por gráficas editoras comerciais, de grande porte ou até tipografias. São custeadas pelos investidores do mercado livreiro, geralmente donos das editoras e associados, que financiam e obviamente esperam a remuneração do seu investimento, quando ocorrer a venda.
FOCO
As editoras comerciais, priorizam o faturamento, ou seja, o volume de vendas x Preços. Aqueles que remuneram mais facilmente o capital investido.
SENSORES
No aspecto Mercadológico, as prioridades são definidas pelos resultados das percepções dos analistas de mercado. Para isso, utilizam várias ferramentas, como: Pesquisas de mercado, Estratificação de clientes: condição social, nível de escolaridade, estágio cultural, necessidades, expectativas, local onde mora, poder aquisitivo. Situação de mercado: Oferta de produtos, propaganda, planejamento de vendas, localização e necessidade de locomoção, formação de equipes de vendas, cursos para vendedores. Cada uma dessas com os recursos característicos de estudos. No aspecto de mercado, o que parece ser irrelevante, pode ser determinante para o sucesso do empreendimento. Hoje, vejo muitas pessoas que se dizem cultas e bem informadas, repetindo paradigmas do tipo: “o povão não lê”, “o pobre só se interessa pelo que “é de comer”, “o inculto não possui o hábito da leitura”, “o livro não é um produto vendável, a maioria do povo não compra”, “o livro não é de comer, nem pode ser transformado em comida, não tem valor para quem precisa ganhar para comer”, “o livro é um artigo de luxo, reservado aos ricos e bem nascidos”, para que ler tanto, saber tanto. O que farei com tudo isso depois, não há empregos, e tal”. Paradigmas, meias verdades ou mentiras inteiras. Visão míope da vida. Na verdade, chamavam de apatia, conformismo, falta de disposição para a luta, incompetência.
No aspecto acadêmico cultural, Nas Editoras de Universidade, há uma banca avaliadora, comissão interna. Quando editora externa, editando com recursos de alguma lei de incentivo, a escolha da obra vem definida pelos contemplados com a aprovação do projeto literário apresentado. Quando por conta do autor, tudo fica estabelecido num contrato bilateral entre autor e gráfica editora.
Vejamos agora a outra face da moeda ou de certa forma a antítese de todas essas crenças vigentes. A quebra desses paradigmas, usando-os como ponto de partida.
Se apenas alguém me dissesse, se eu não tivesse sido testemunha ocular e de certa forma partícipe, não acreditaria que seria possível subverter essa ordem e quebrar todos esses paradigmas citados acima, usufruindo então dos ganhos que se tornaram possíveis. O que acontece é que algumas pessoas subestimam “o lado de lá”, pensando que são um bando de ignorantes, aventureiros e oportunistas tentando ganhar dinheiro. Aventureiro, oportunistas e ávidos por dinheiro, sim, mas pensar que são ignorantes, é um lamentável engano. Nessa área de mercado, temos mestres, doutores e pós doutores, especialistas em várias áreas, alguns muito famosos, mundo afora, capazes de “tirar leite das pedras”. Psicólogos que conhecem muito bem a estratificação das necessidade humanas, conhecida como a Pirâmide de Maslow e que sabem muito bem como manipular tudo isso. Gente especialista em levantar dados socioeconômicos, incluindo quanto ganham, o que consomem e de que forma pagam as suas contas. Saber de suas preferências e aspirações, que muitos são capazes de sacrificar itens de maior prioridade, para realiza-las, e muito mais. É exatamente o que faziam.
Vou contar a minha experiência no mercado livreiro há muitos anos, como partícipe de uma equipe de vendas. Entre 1967 a 1969. Estávamos inseridos num contexto político de mudanças drásticas, com a recém empossada “ditadura militar”, ocorrida após a revolução de 31 de março de 1964. A situação econômica que nunca foi boa, piorou muito, naquela transição. O clima de vigilância e desconfiança, horrível. Os livros eram mal vistos. Quem fosse apanhado com algum livro, que não fizesse parte da grade escolar, tinha muito que se explicar. Para pesquisar e ler livros comuns, associávamos a várias bibliotecas. Os da grade escolar, comprados a duras penas, eram passados para os irmãos que chegavam depois nas séries onde os outros já haviam passado. Livretos eram confiscados. Jornaizinhos e panfletos rendiam prisão na hora, para averiguação e interrogatórios e se fosse considerado subversivo, complicava muito a vida do leitor ou portador. Os livros criminalizados eram os de conotação ideológica e política. Os outros, apesar de haver uma pesada censura, eram “pecadinhos veniais”.
Empregos estáveis, com carteira assinada, eram raríssimos, geralmente voltados ao serviço público ou comércio varejista e algumas poucas empresas maiores, ligadas a exportação de café. Os salários, sempre baixos. Os itens básicos como comida e manutenção de casa eram pagos com o salário do mês, com o máximo controle. O povo vivia chafurdado em dívidas de empréstimos tomados e sempre reformados. Vestuário, adornos utilitários, como relógios de pulso e outros pagos em prestações de 10 vezes ou mais, dependendo do montante.
1 – As grandes Cortesãs da história. Falavam de personagens como Cleópatra, Lucrécia Borges e outras. Livro de conotação sexual, estimulante do imaginário e da libido.
O mercado livreiro conviveu com esses tempos difíceis, atuou fortemente nele e subsistiu.
Nesse ponto voltamos com aquelas perguntas: Pobre compra livros? Com que dinheiro? O inculto lê livros? Que tipo de livros?
Curiosamente a resposta à primeira pergunta era “sim”. E comprava não somente livros, mas, coleções de livros. A resposta a segunda pergunta era terrível: comprava a prestação, ou em outras palavras com o dinheiro que ainda ia ganhar. Essa prestação, consumia parte do rendimento mensal e limitava ainda mais o seu poder aquisitivo. Aí entrava uma componente auxiliar: o vendedor visitador, com sua lábia. Ou seja: o possível comprador não saía de casa. O vendedor ou possível vendedor ia até ele, que comprava com o dinheiro que não tinha e se endividava ainda mais, sem poder. Aí vem a terceira pergunta, seguida da quarta: O inculto lê livros? Que tipo de livros? Mais uma vez e surpreendentemente a resposta era “sim” para a terceira pergunta. A quarta pergunta era na verdade a chave de tudo. Na verdade, o leitor lê o livro feito para ele; que se enquadra na sua mentalidade, atende suas expectativas, sacia suas necessidade básicas, em última análise, ele se lê. Há no ser humano, necessidades a serem satisfeitas, a começar pelas mais básicas como: respirar, comer, beber, fazer sexo, dormir, excreção. Uma vez satisfeitas essas necessidades básicas, ele aspira outras, numa espécie de hierarquia. É isso que expressa a pirâmide de Maslow.
Eram exatamente esses livros que atendiam a base da pirâmide de Maslow, a camada Fisiológica que eram os livros que realmente se vendiam/compravam. Farei uma breve lista dos títulos, identificando o seus tipos e comentando:
Coleções como “OS Economistas” e “Os Pensadores”, com 60 livros cada, entre outras, eram comuns. Apareceram bem depois com a situação econômica um pouco melhor. Saía toda a quinzena na Bancas.
2- Memórias de Casanova, que cortejava muitas mulheres liberais e dissimuladas, nobres, servas, criadas e até escravas. Um sexualmente desenfreado. Conotação sexual. Tal como ele, também Don. Juan e outros.
3- Coleção de Educação Sexual de Dr. Fritz Khan. Ensinava tudo sobre o sexo, de forma educacional e técnica.
4- Livros de autoras realista e liberais, tipo Cassandra Rios e Adelaide Carrago, de conotação sexual, descrevendo cenas de sexo explícito de tipos bastante variados, inclusive relações homossexuais e outras bem desenfreadas. Descreviam muito bem a noite em baixos meretrícios, como a boca do lixo de São Paulo e vários outros. Alguns, como o ASCO de Adelaide Carrago, escandalizavam alguns puritanos da época.
5 – Contos dos Irmãos Green, livros de histórias infantis clássicas de origem europeia.
6- Conselheiro médico do lar. Atendimentos básicos no cuidado as doenças. Conotação Saúde, com enfoque na auto medicação. Linguagem técnica da área de saúde.
7 - As Plantas Curam. Ensinavam remédios naturais diversos de folhas, raízes, cascas, sementes, talos. Indicavam a forma de fazer e como administrar aos pacientes. Conotação Saúde. Eram comuns chás, infusões, unguentos, banhos e outros.
Voltando aos dias de hoje, é curioso como o escritor acadêmico vai a livraria e se pergunta. Por que o livro de tal autor vende muito e o meu praticamente nada? Como conseguem tornar um Best Seller, um livro de pouco conteúdo e o meu nem aparece?
8 – Enciclopédias, como a Barsa e outras, de conteúdo informativo, uma cultura de rodapé, diversificada. Era o nosso “Google” de antigamente.
9 – “Coleção Tecnirama”, Grandes inventores, histórias de invenções tecnológicas e seu desenvolvimento, prático perfumista, químico prático etc. Cultura de rodapé também, porém específico das ramos de elétrica, mecânica, química e outros.
Fui conhecer alguns livros, desses destinados à camada fisiológica da pirâmide de Maslow, nos chãos de fábricas. Alguns provocaram escândalos por envolver pessoas conhecidas da sociedade e deram um jeito de sumirem com eles, com a ajuda de alguns militares em vários escalões do poder, conhecidos, ligados a essas pessoas.
Livros como as enciclopédias, normalmente coleção com muitos volumes, capa dura e bela encadernação, bem como os infantis, geralmente eram colocados em Bibliotecas municipais, quando alguém descobria certa dotação orçamentária disponível, parada por falta de gestão ou na iminência de serem contingenciadas para outras aplicações, consideradas mais importantes e necessárias. Dependia de influência e jogo político para garimpar essa mina. Estes eram destinados às pesquisas estudantis. Pagos com o erário público.
Mas havia outros, proibidos, conhecidos como “livrinhos de sacanagem”, impressos em tipografias clandestinas, desenho a mão, como chamavam, a bico de pena, Enredos com cenas de sexo explícito, entre personagens de diversos tipos da sociedade, como freiras, padres e outros cujo relacionamento seria escandaloso. Eram estimulantes do imaginário e da libido, caríssimos, que os adolescentes adoravam e sacrificavam seus lanches para compra-los. De conotação sexual e cômica, pago pelos leitores adolescentes e pós adolescentes. Mas alguns adultos também não dispensavam.
Nos dois séculos passados, os livros eram objetos de luxo e destinados ao pessoal de alto padrão social, educacional e elevado poder aquisitivo. Eram luxuosos, capa dura, forrados com couro trabalhado artisticamente como o barroco, figuras em relevo, detalhes com tinta dourada.
Esses livros antigos que alguns desdenham, tem um tratamento especial nas bibliotecas, ficando numa sala climatizada, com temperatura e umidade controlada, vedada contra pó e esterilizadores de ar e alguns já estão em processo de digitalização. Enquanto não chega a vez de digitalizar, são acondicionados com proteção externa especial. Quanto mais antigo e raro, mais precioso e mais cuidadoso o tratamento que recebem.
Por que o custo de produção do meu livro é muito mais caro que o preço de venda dos que estão na livraria? Aí, chegamos ao submundo dos livros de consumo do mercado. Malha extremamente complexa. Uma gigantesca estrutura empresarial, de maerketing, design, vendas, investidores e tal.
Os livros são classificados por tipos, que atendem a determinada clientela. A livraria em uma mesma rede vende mais determinados tipos de livros que outras, dependendo até dos bairros em que se encontram, a condição socioeconômica dos clientes e vários outros fatores. Os exotéricos são campeões de venda numa região, enquanto os de auto ajuda campeões em outro lugar. Na verdade, temos Livros e Livros.
O livro, no mercado livreiro é um produto como qualquer outro, que remunera o capital investidor em determinada margem de lucro estabelecido. Obviamente, o investidor espera o retorno sobre o investimento e para isso precisa vender. Para conseguir isso, entram todos os especialistas de sua empresa, fazendo o trabalho de sua competência. E precisam realmente fazer um bom trabalho, pois o seu trabalho também é remunerado pelas vendas.
Fui um desses vendedores de porta em porta e participei dessas equipes de vendas que ia nas casas das pessoas, apresentava os livros e os induzia às compras.
Mas, obviamente o mercado livreiro atende a todos os segmentos, todos os tipos de livros para todos os tipos de pessoas, professores, estudantes, profissionais e amantes dos diversos tipos de leituras.

Alguns livros, estão esgotados há muito tempo e enquanto não houver procura, não é rentável e por isso não se fazem novas edições. Assim, surgiu outro segmento de mercado, chamados “SEBOS”, que trabalham com livros velhos. Eu fiz uso dele. Adquiri vários livros antigos, preciosos por serem raros, porque as bibliotecas sofreram restrições durante essa pandemia.

Ver anexos:



08/11/2020.


AUTORIA DE: JOÃO ROBERTO VASCO GONÇALVES (ROBERTO VASCO) ACADÊMICO: Cadeira 3 – Patrono: São Francisco de Assis DADOS PESSOAIS - João Roberto Vasco Gonçalves, Natural de Anchieta, ES, reside em Jardim da Penha, Vitória, ES, há 39 anos; Cep:29060-110, Cel:9-9963.0471, Casado, Pai de 2 filhos e uma filha, avô de um neta e um neto. Aposentado da antiga Cia. Vale do Rio Doce, Militou na área de Engenharia Industrial, Ramo de Eletroeletrônicos. Tem Empresa, PJ, na área de Consultoria de Projetos e Serviços eletroeletrônicos e Treinamentos. ESCOLARIDADE - Bacharel em Administração de Empresas. - Pós graduações latu sensu em Análise de sistemas Informatizados; Comercio Exterior; Didática do Ensino Superior; Comissionamento de projetos Industriais. ATIVIDADES LITERÁRIAS - Poeta, Pesquisador e Escritor e historiador de fato, Autor de vários livros. VIDA PROFISSIONAL: - Supervisão e Gerência técnica - CVRD, 1975 – 1997 – APOSENTADO - Empresário na área de Consultoria Técnica: JRV Serviços de Consultoria Técnica Industrial ATIVIDADES ACADÊMICAS - Secretário Geral da ACLAPTCTC, ACADÊMICO CADEIRA 3, Patrono: São Francisco de Assis. Acadêmico em várias academias no ES; RJ E SP. Academias: Acadêmico correspondente na ARTPOP- Academia de Cabo frio-RJ; Acadêmico Patronímico cadeira Nº14, Academia de Ciências Históricas São Constantino e Santa Helena; Acadêmico Patronímico Cadeira Nº 10 do CONINTER, Senatoria ES; Secretário geral da ACLAPTCTC – ACADEMIA CAPIXABA DE LETRAS E ARTES DE POETAS TROVADORES, Acadêmico e Tesoureiro da Academia Jurídica de Letras do ES; Acadêmico e 2º Tesoureiro da Sociedade de Cultura Latina do Brasil; Acadêmico na ALVV, Academia de Letras de Vila Velha; Acadêmico da Academia Marataizense de Letras, Acadêmico Correspondente da Academia Cariaciquense de Letras, Acadêmico correspondente da academia Teresense de Letras; Acadêmico correspondente da academia Castelense de Letras. Livros Publicados: LOUCURAS DA RAZÃO- VERSO E PROSA, Lançado em novembro de 2014. Esgotado GUARDIÕES DO TESOURO-CONFRARIA DO TORAH MOSHÊ – Lançado em julho/2015. Esgotado DOSSIÊ GUARAPARI: Lançado em julho de 2016. Esgotado VITÓRIA – FRORTIFICAÇÕES E ILHAS – Lançado em 2017 ANCHIETA EM VERSO E EM PROSA – 2 séculos de histórias contadas pelo povo – 2018. MUSAS E POETAS – Lançado em 2019 – Vitória - ES CRÔNICAS DE CAMBURI – Lançado em 2020 – Vitória - ES O TAUMATURGO DE IRIRITIBA - ÉPICO (NO PRELO) O NEOTROVISMO E O CTC - CORDEL-Vitória – ES - 2020 MANEMOAÇU SEQUESTRADO PELOS ETs. - CORDEL-Vitória – ES - 2020 Antologia de Poetas e Escritores Brasileiros – ACLAPTCTC – Vitória – ES - 2020 Coletânea – Coleção Mulher – Mulher-Mãe – Editora Jordem – Vitória - 2020 Coletânea – Coleção Mulher – Mulheres – Editora Jordem – Vitória – 2020 Antologia de Contos Breves e Crônicas - Literatura em Foco, Escritores sem Fronteiras I OUTROS.

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